31 de out. de 2018

O que é sexo?

AC: menções a sexo e genitálias, descrição de atos sexuais, menção a abuso.



Ano passado participei de uma roda de conversa com pessoas não-binárias e a-espectrais. E chegamos a entrar no tópico sobre sexo e sexualidade. A princípio achei um pouco estranho pessoas assexuais e do espectro puxarem esse tema. Mas teve um diálogo fantástico.

Discutimos justamente a pergunta do título do artigo. O que torna o sexo sexo? O que é sexo de verdade? Existem critérios para determinar um ato como sexo ou somos nós que decidimos se nossos atos são sexo?

Uma das pessoas lá, que era demi e gris, disse que considerava um carinho na cabeça algo tão prazeroso que poderia ser comparado ao sexo descrito por alossexuais. E isso me fez pensar no quanto construímos uma noção tão limitada de sexo baseando-se numa perspectiva alossexual. Uma participante enriqueceu bem mais a conversa adicionando construções do patriarcado e todo o mecanismo da pornografia em padronizar o sexo.

Já sabemos o quanto é problemático considerar sexo apenas quando há penetração. Porque isso invalidaria as relações de praticantes de gouinage, principalmente pessoas com vagina. E poderia ser usado como argumento para invalidar certos casos de abuso. Mas então veio meu questionamento: precisamos tocar a pessoa?

Eu já havia feito sexo virtual duas vezes e eu senti como se tivesse transado "fisicamente" com a pessoa. Pra mim aquilo foi válido, foi real. Me conectei com a pessoa e gozamos através de estímulos visuais entre nós. Como isso não pode ser de verdade?

Foi refletindo sobre outras coisas que fiz antes da minha "primeira vez" (que aconteceria dois meses depois dessa roda) que me fizeram perceber que virgindade nem tem sentido. Eu não soube mais dizer quando foi a tal da primeira vez. Mas claro que isso não apaga o fato de que o que fiz dois meses depois foi algo marcante, pois foi bem diferente de sexo virtual ou masturbação mútua. O primeiro sexo oral e o primeiro sexo anal ainda têm um peso na memória.

Saí dessa conversa sem saber o que exatamente define sexo, mas saí dela com uma visão mais ampla que permite várias respostas à pergunta. Sexo não precisa ser físico, não precisa nem ter ejaculação. E se você quiser considerar que o sexo começou no beijo ou na simples troca de olhares, você pode. É a sua relação, é a sua vivência.

Mesmo agora acreditando que o sexo não necessita ser físico, não é todo flerte ou toda carícia que o considero como tal. É um tanto confuso, sinceramente. O que pude tirar da roda de conversa e reflexões posteriores é que precisamos redefinir nossa concepção de sexo. E precisamos estudar mais a assexualidade e o espectro assexual; assim explorando horizontes até então impensáveis sobre intimidade, prazer e o ato sexual em si.



29 de out. de 2018

Após as eleições

AC: política, eleições, menção a fascismo, violência.



Bem... o pior aconteceu. Nosso país elegeu um fascista como presidente. E agora? Entramos em pânico, em desespero?  Choramos? Cavamos um buraco e nos enterramos?

Calma! Se acalma! Isso mesmo, se acalma. Não é o fim do mundo.

Sim, eu entendo a frustração, o sentimento de impotência, e o terror que muites (eu incluse) estão tendo agora. Algumas horas após o resultado ocorreram muitos casos de violência, intimidação, agressão e morte.

Na noite de ontem e nessa madrugada tivemos uma onda perigosa de fascistas em vários lugares, até em locais como Paulista e Augusta, conhecidas como pontos LGBT+ de São Paulo. Acredito que agora pode estar menos pior. Mas infelizmente não poderemos mais baixar a guarda.

Estou escrevendo isso aqui para todes que estão vulneráveis, tá? Se você não é uma pessoa vulnerável - alvo dos discursos de ódio do fascista e do eleitorado dele - tenha a decência de ser compreensive. Se não é vulnerável e acha que isso tudo é exagero, bobagem, mimimi, quero mais que você se foda. :D

Pacifismo acabou. Agora é luta, pessoas. Somos nós por nós.

Todo período de crise é também um período de oportunidades. Posso ficar aqui dissertando sobre os absurdos dessas eleições e o quanto foi bizarro elegermos esse lixo. Mas prefiro agora focar no presente.

Se você ainda precisa de um tempo pra estar de luto pelo país, tudo bem. Fique de luto. Contenha-se, esfrie a cabeça, proteja-se em sua bolha ou em seu próprio espaço, deixe todo esse sentimento sair de você. Faça algo que goste. Veja algo que goste. Respire. E reúna forças. Você vai precisar para a luta. Vamos precisar.

(Descrição de imagem: a palavra "lutoa", a letra O riscada; assim fazendo uma troca entre as palavras luto e luta.) 

Todes nós vamos necessitar de força para o que está acontecendo e para o que ainda acontecerá. Será uma ditadura? Será muitos direitos conquistados sendo tirados? Sinceramente, não acho que chegará a esse ponto, pelo menos não em pouco tempo. O que espero de verdade é um governo bosta e uma onda fascista tentando nos aterrorizar e nos eliminar de várias formas.

Agora mais do que nunca precisaremos nos unir. Vamos agora ter que olhar para a pessoa do lado e não ver mais uma estranha, e sim uma pessoa que necessita de apoio e ajuda. Cada ume fazendo sua parte e se cuidando.

Não somos poucas pessoas, tá? Somos MILHÕES de pessoas. E mais pessoas ainda virão, incluindo aquelas que não votaram, e até aquelas que votaram no fascista e vão se arrepender disso por diversos motivos. Já está havendo arrependimentos, aliás.

Unides faremos força. Grupos de apoio e resistência já foram formados. Em breve haverá articulações e movimentos. Procure esses grupos. Se apoie nas amizades e na família (se ainda tiver). Deixarei aqui também links com materiais sobre segurança para pessoas LGBTQIAPN+.

Link 1: www.mediafire.com/file/w9iavsc8729ruvc/Dicas+de+Segurança+LGBTI%2B.pdf
Link 2: www.mediafire.com/file/cedschxneesdcfa/Dicas+de+segurança+para+pessoas+LGBTIs.pdf

E por fim...

SEREMOS RESISTÊNCIA!!!!!

(Descrição de imagem: duas mãos dadas segurando também uma flor com o texto "Ninguém solta a mão de ninguém".)


24 de out. de 2018

Não-binariedade: Identidades #2

Aqui continuarei listando mais identidades não-binárias que foram cunhadas na anglosfera. Quem tiver uma experiência de gênero igual ou similar às descrições pode acessar essas identidades.

Confira a primeira lista aqui.



Mingênero: termo guarda-chuva para todo gênero "masculino por natureza". Também pode se referir a um gênero que não está definido, mas que com certeza é masculino; ou um gênero que tenha masculinidade como característica principal.


Fingênero: termo guarda-chuva para todo gênero "feminino por natureza". Também pode se referir a um gênero que não está definido, mas que com certeza é feminino; ou um gênero que tenha feminilidade como característica principal.


Lingênero: termo guarda-chuva para todo gênero "andrógino por natureza". Também pode se referir a um gênero que não está definido, mas que com certeza é andrógino; ou um gênero que tenha androginidade como característica principal.


Ningênero: termo guarda-chuva para todo gênero "neutro por natureza". Também pode se referir a um gênero que não está definido, mas que com certeza é neutro; ou um gênero que tenha neutralidade como característica principal.


Zenino: um termo específico para quem se encaixa de alguma forma como homem não-binário ou algo parecido, ou com hombridade/masculinidade, mas deseja um nome curto, único e que soe de uma forma não-binária.


Zenina: um termo específico para quem se encaixa de alguma forma como mulher não-binária ou algo parecido, ou com mulheridade/feminilidade, mas deseja um nome curto, único e que soe de uma forma não-binária.


Ambigênero: a pessoa sente dois gêneros simultaneamente, sem fluidez ou trocar entre eles.


Androx: um gênero que está entre o masculino e o andrógino.


Ginex: um gênero que está entre o feminino e o andrógino.


Nonvir/Nonpuer: um gênero com uma ligação forte com masculinidade, mas sem relação com homem.


Nonpuella/Nonera: um gênero com uma ligação forte com feminilidade, mas sem relação com mulher.


Nonpuerella/Nonvirmina: um gênero com uma ligação forte com masculinidade e feminilidade, mas sem relação com homem ou mulher.


Cenrell: uma pessoa que se sente melhor dentro do espectro neutro de gênero, mas ainda sente uma forte conexão com masculinidade.


Faesari: uma pessoa que se sente melhor dentro do espectro neutro de gênero, mas ainda sente uma forte conexão com feminilidade.


Melle: um gênero masculino com um alinhamento feminino, podendo ou não incluir outros alinhamentos que não sejam masculinos. É uma identidade acessível também para homens binários.


Femil: um gênero feminino com um alinhamento masculino, podendo ou não incluir outros alinhamentos que não sejam femininos. É uma identidade acessível também para mulheres binárias.


Neuvir: um gênero masculino ao mesmo tempo inteiramente neutro.


Neulier: um gênero feminino ao mesmo tempo inteiramente neutro.


Neuangi: um gênero andrógino ao mesmo tempo inteiramente neutro.


Gênero-fada: uma fluidez de gênero que nunca envolve masculinidade ou gêneros masculinos.


Gênero-fauno: uma fluidez de gênero que nunca envolve feminilidade ou gêneros femininos.


Gênero-flor: uma fluidez de gênero que nunca envolve masculinidade/feminilidade ou gêneros masculinos/femininos.


Fraspe: define um gênero que se divide em muitos outros, e a pessoa pode vivenciá-los ao mesmo tempo ou individualmente, assim como pode reconhecê-los ou não. Os gêneros também podem voltar a se combinar de novo em um só.


Pregênero: um gênero que está crescendo, mas ainda não é um gênero em particular (ex: um pre-homem sente que seu gênero está caminhando para ser homem, mas ainda não é).


Cendegênero: a pessoa muda entre um gênero e seu gênero oposto (anti-gênero).


Sem gênero: similar a agênero, mas para quem prefere não usar ou dispensa outros termos.


Pendogênero: a pessoa nunca está satisfeita com seu gênero por causa de dúvidas, o que a faz procurar compulsivamente por identidades e categorias para descrevê-lo. Identidade exclusiva de pessoas neurodivergentes.


Novigênero: uma experiência de gênero tão confusa que é difícil ou impossível de descrever.


Verangênero: um gênero que muda sempre que é identificado.


Giaragênero: muitos gêneros, mas nenhum ou quase nenhum identificável.


Aquarigênero: um gênero que muda de forma constante e lentamente.


Abrogênero: um gênero que muda muito rápido para ser definido, ou que tem tantos aspectos que você sente estar continuamente descobrindo-o.


Admasgênero: um gênero que se recusa a ser categorizado e está enraizado numa essência indomável e indefinida.


Ludogênero: um gênero que muda e se adéqua ao gênero das outras pessoa ao redor.


Casgênero: uma pessoa que considera o conceito de gênero irrelevante ou indiferente.


Necrogênero: um gênero que costumava existir, e agora está "morto" ou inexistente.


Paridoxigênero: um gênero com qualidades que o tornam contraditório em si (ex: ser agênero, mas sentir-se masculine; ou sentir ser e ao mesmo tempo não ser de um gênero).


[Orientação]gênero: um gênero que é também a orientação (sexual, romântica, etc) da pessoa, ou um gênero que está tão intrinsecamente ligado à orientação dela que é impossível separar ambes.

Obs: há pessoas que se identificam como bichas que podem ter uma experiência similar ou igual.


Xenogênero: uma identidade que não pode ser descrita dentro de concepções comuns ou humanas, podendo ser definida ou explicada com sensações, emoções, elementos da natureza, animais, plantas, etc.


Kingênero: um gênero definido pela pessoa ser otherkin; uma subcultura de pessoas que se identificam como não-humanas (animais, seres mitológicos, aliens, personagens fictícies, etc). Exemplos: a pessoa sente que seu gênero tem as características de uma raposa, ou a influência da "essência" de uma sereia, etc.


Encerro aqui a lista.



20 de out. de 2018

Motivos para não ser anti-hétero

AC: monossexismo, exorsexismo, apagamentos (trans, intersexo, a-espectral, queer).



Começo esse artigo dizendo que: heterofobia (ou heteromisia) não existe. Não é um sistema opressivo, em nenhuma parte do mundo pessoas estão sendo marginalizadas por serem hétero.

Apesar disso, é muito comum ver entre espaços e grupos LGBT+ atitudes de rejeição e deboche a pessoas hétero. Não falo de brincadeiras e piadas informais, nem de ironias a opressão reversa. Falo de algo mais recorrente, que parece inofensivo, mas não é realmente.

Esse comportamento é muito desnecessário e até nocivo até para pessoas de dentro da comunidade. Vou explicar as razões disso.

Como recortes de gênero são bem ignorados por aqui, pessoas da comunidade agem constantemente como se "hétero" fosse o contrário de LGBT+. "Sai Hétero" é um brincadeira que irritou muitas pessoas trans hétero, e com toda razão: nem o recorte cis fazem. Não fazer isso é como dizer que cissexismo não é um tópico relevante, ou que nem existe.

Ver um casal duárico e ler ambas as partes como hétero perpetua o apagamento de pessoas bi/multi. Dentro do monossexismo já existe a ideia da tal passabilidade hétero, que é muito usada para "desmentir" a existência da bimisia/multimisia. Manter a "leitura hétero" como válida e inquestionável apenas coopera com isso; com o monossexismo.

Sem contar que, embora possa ser algo menos comum ou frequente, existe ainda a possibilidade daquele casal lido como duárico ser na verdade um casal diamórico ou mesmo enebeano. Aquelas pessoas podem ser não-binárias. E aqui temos o apagamento não-binário; sustentado pelo reducionismo de gênero.

Esse antagonismo também atinge todas as pessoas hétero de certos segmentos. Eles são: trans, intersexo, a-espectral e queer. Sim, existem pessoas hétero (e cis) em quatro segmentos da comunidade. Chocades?

Antagonizar héteros(-cis), e ainda sem fazer os devidos recortes, acaba sendo uma forma de ignorar esses outros segmentos, querendo ou não. Ao ignorar o recorte você ignora a existência dessas pessoas e das opressões que elas sofrem.

Mulheres e homens trans podem ser hétero, mulheres e homens intersexo podem ser hétero, mulheres e homens assexuais podem ser heterorromântiques, e heterossexuais (e cis) podem ser pessoas arromânticas. No segmento queer são englobadas pessoas NCG e/ou não-monogâmicas, e elas podem ser heterossexuais e cis.

Por último, como já falei, essa antagonização é bem desnecessária, e nem acho tão absurdo pessoas hétero-cis de fora da comunidade se chatearem, ou ficarem com uma impressão infantil ou revanchista da comunidade. Pessoas mais sensatas e instruídas não vão deixar isso afastá-las da causa, porém muita gente não vai pensar dessa forma. Lembrando que a informação aqui é precária; essas pessoas podem realmente achar que são odiadas por pessoas LGBT+, e que podem ser oprimidas.

Com tudo isso, em prol da inclusão, da desconstrução, e até para termos mais aliades em nossa causa, vamos parar de antagonizar  tanto héteros(-cis)? Obrigade.



17 de out. de 2018

Dia Internacional dos Pronomes

Descobri hoje mesmo que o dia de hoje, 17 de outubro, foi proclamado como o Dia Internacional dos Pronomes. Uma iniciativa feita para promover o respeito às linguagens pessoais, um tópico importante para as pessoas trans e não-binárias e pessoas fora dos padrões ocidentais de gênero.

O dia foi feito com o intuito de empoderar esses grupos e trazer conscientização sobre o respeito ao pronome pessoal. A ideia surgiu após uma pesquisa sobre os efeitos positivos na saúde mental de pessoas trans ao terem o nome respeitado.

Uma grande quantidade de línguas atualmente tem pelo menos dois pronomes, ambos marcando gêneros feminino e masculino. Faz parte da luta diária de pessoas trans binárias terem o pronome que "não foi designado" a elas respeitado.

Se falar em respeito aos dois pronomes que se referem aos gêneros binários - presentes e validados no mundo inteiro - ainda é um desafio, um desafio maior é falar dos neopronomes; de pessoas NCLs em geral. 

Apesar de ser proclamado como dia "internacional", preciso pontuar que nem todos os países seguem o mesmo modelo de linguagem. Por isso daí surgem demandas diferentes para as pessoas cisdissidentes dependendo do país.

Há países como China, Estônia e Finlândia em que não há pronomes associados a gêneros; existe apenas um pronome para todes. Nesses países pode não haver preocupações com pronome, mas ainda há outras palavras que marcam gênero e, portanto, ainda há brecha para maldenominação.

Países da anglosfera têm uma linguagem resumida a pronomes, enquanto países da lusosfera (Brasil, Portugal, Espanha etc) possuem uma linguagem mais elaborada divida em artigos, pronomes e finais de palavra. Sobre a anglosfera, pronomes "neutros" e neopronomes estão começando a aparecer e ser discutidos - isso está mais evidente nos EUA.

Falando especificamente da lusosfera, podemos ter uma diversidade bem maior de linguagem além dos neopronomes. Além de reconhecê-los, é necessário também reconhecer outros artigos (e, le, y etc), assim como outros finais de palavra (e, i, u etc). E com isso temos muitas possibilidades de conjuntos formados.

Embora eu admire a iniciativa desse dia, ressalto que precisamos separar essas demandas, analisar cada estrutura da língua de cada país, e assim discutir apropriadamente como as discriminações de gênero - cissexismo, exorsexismo e binarismo - podem atuar e como podem ser combatidas.

Se os pronomes ganharam um dia específico, acredito que seja um bom sinal. Vamos aproveitar essa visibilidade, e aproveitar as portas que podem ser abertas para o debate e a conscientização.

(Descrição de Imagem: A mensagem "Todos os pronomes são válidos e devem ser respeitados", com muitos pronomes espalhados ao redor, logo abaixo as hashtags International Pronouns Day e Dia Internacional dos Pronomes, e as bandeiras trans e não-binária nos cantos superior esquerdo e inferior direito, respectivamente).


14 de out. de 2018

Ano IV

É, minha gente. Quatro anos nessa porra.

Quatro anos de artigos polêmicos, desnecessários, motivos de chacota...

Brincadeira.

Gostaria muito de estar comemorando esses quatro anos num período menos agitado como foi nas outras vezes. MAS...

Em todo caso, sigo aqui firme e forte. Sigo aqui escrevendo o que quero. Sigo aqui tentando espalhar informação. Sigo aqui falando sobre diversidade. Sigo aqui procurando plantar uma semente pro futuro da comunidade LGBTQIAPN+ brasileira.

Sigo tentando trazer novas palavras, conscientizando sobre temas de dentro da comunidade e interseccionados, falando de uma diversidade bem maior que muites ainda desconhecem por aqui, e procurando abranger o máximo de grupos marginalizados que consigo.

Se chegarei ao quinto ano, não sei dizer por vários motivos. Não estou fazendo drama nem insinuando que irei, sei lá, morrer. Acontece que estive tendo outros planos, e um deles envolve parar com o blog para criar algo muito melhor.

Me dando agora o luxo de ser orgulhose, mesmo admitindo minhas falhas e limitações aqui, esse blog é uma iniciativa que poucas pessoas tiveram e levaram à diante na Internet brasileira; a iniciativa de criar um grande espaço para toda a diversidade de atração, gênero e corporalidade.

Essa mesma diversidade da qual faço parte é minha causa. Essa causa é uma das minhas motivações para acordar todo dia. Essa motivação me impulsiona para viver e lutar e resistir. A comunidade LGBTQIAPN+ sempre foi marcada por esses três verbos.

Sigo fazendo esse trabalho aprendendo e melhorando a cada dia. Sigo com minhas outras atividades fora daqui. E sigo sendo eu mesme, vivendo para militar e militando para viver.

Beijas em vossas almas, querides leitories.



11 de out. de 2018

E agora???

AC: política, eleições, fascismo, violência e opressão.



(Descrição de imagem: um fundo preto estrelado com Ele Não escrito grande.)

Pessoas, um período bem difícil chegou esse ano.

Como sempre não vou citar nomes. Nem preciso, né? E também não vou exigir voto. Pelo menos não explicitamente. Tenho direito a isso, mas não criei o blog para isso.

Independentemente do resultado dessas eleições, saibam que nossa comunidade enfrentará uma época mais difícil. Se um candidato vencer, seu eleitorado se sentirá mais legitimado a nos agredir e matar. Se o outro vencer, esse mesmo eleitorado ficará revoltado.

"Mas... e agora? O que fazer?"

Bom, não tenho fórmula nem manual de sobrevivência. Porém, detesto admitir, mas preciso falar aqui alguns procedimentos que devem ser tomados especialmente nesses dias que antecedem ao segundo turno.

Cuidado nas ruas. Espaços públicos cheios de gente não estão mais tão seguros. Não que fossem antes, mas agora a coisa tomou outra proporção. Pessoas estão sendo provocadas gratuitamente, estão sendo intimidadas, e até agredidas. Inclusive já houve caso de homicídio. Andem em grupos. Tenham atenção ao seu redor. Acompanhem as notícias, as fofocas, até boatos (ex: se tem um grupo neonazi pertinho do seu endereço).

Eu definitivamente não quero estimular violência. Mas estamos agora mais do que nunca correndo risco de vida. Não tenham medo de se defenderem. Se defendam como puderem. Repito: como puderem. Protejam suas vidas sem remorso.

Não se sintam covardes por não entrarem em brigas ou discussões sobre política, seja com amizades, seja com família, seja com gente desconhecida. Se acharem seguro, entrem. Ressalto um cuidado especial com desconhecides, ainda mais quando elus que entram no assunto.

(Descrição de imagem: em cima um tubarão perseguindo peixes coloridos, logo abaixo a frase "Não entre em pânico", abaixo o tubarão fugindo dos peixes coloridos unidos formando um peixe gigante, em seguida a frase "organize-se".)

Temos que nos organizar mais do que nunca agora. Falem, comentem, gritem, compartilhem conteúdo, abram debate com quem está aberte a dialogar. Não fiquem em silêncio. Não se omitem, não se isentem. Declarem seu apoio pela democracia. Ela está em risco junto com nossa comunidade e outros grupos da sociedade.

Não sei qual ajuda esse recurso pode oferecer, mas esse site está coletando relatos de casos violentos cometidos pelo eleitorado do fascista:.

E por favor, não percam a esperança. Não pensem em suicídio. Nem façam piadinhas com ditadura e tortura. É possível sim virar essas eleições, todes nós precisamos nos movimentar em prol disso. Lembrem-se que 28% da população eleitora não votou em ninguém (votos nulos/brancos + abstenções). É a hora de defender nossas vidas e nosso país.

Comunidade LGBTQIAPN+, somos alvo há séculos das opressões. Resistimos até aqui. Podemos resistir mais. Se apoiem, se unam. Juntes enfrentaremos essa onda grande de ódio e preconceito. A diversidade enfrenta adversidade. Força!

(Descrição de imagem: Se Fere A Minha Existência Eu Serei Resistência, e em letras miúdas com hashtag Ele Não, Ele Jamais, Ele Nunca.)



8 de out. de 2018

Terminologias para relações

É comum chamarmos relações de hétero, gay ou lésbica. Basta ver um casal, identificar as pessoas como um homem e uma mulher, ou dois homens, ou duas mulheres, e pronto, o casal está devidamente classificado. 

Primeiro de tudo, uma relação em si não tem orientação, e sim as pessoas envolvidas nela. Segundo, usar esses três termos - que são atrações mono - é excludente com pessoas multi e até a-espectrais. E terceiro, os termos muitas vezes não contemplam pessoas não-binárias (embora algumas possam acessar e usem as identidades gay e lésbica).

Considerando tudo isso, foram cunhados termos mais inclusivos que dependem principal ou exclusivamente dos gêneros envolvidos.

Eu já comentei nesse artigo quatro desses termos, por isso vou apenas repassá-los aqui de forma muito resumida.

Aquileana: relação entre homens.

Sáfica: relação entre mulheres.

Diamórica: relação entre não-bináries e bináries ou apenas não-bináries.

Enebeana: relação entre não-bináries.

Dórica/Quadrisiana: relação entre ume não-binárie e um homem. Define a atração de ume não-binárie por um homem.

(Bandeira dórica)

Trízica/Orbisiana: relação entre ume não-binárie e uma mulher. Define a atração de ume não-binárie por uma mulher.

(Bandeira trízica)

Duárica: relação entre mulher e homem. O termo inclui héteros, mas foi pensado com foco nas pessoas binárias multi e a-espectrais que se relacionam com o outro gênero binário. Também descreve atração entre pessoas binárias, seja exclusiva ou não.

(Bandeira duárica)

Ultramórica: relação entre mulher e homem heterodissidentes. Ou seja, pessoas binárias que se atraem pelo outro gênero binário, mas sem serem (estritamente) hétero. Um casal duárico onde uma ou ambas as partes são heterodissidentes é ultramórico.

(Bandeira ultramórica)

*Obs: ainda não há termos específicos para relações envolvendo mais de duas pessoas binárias.

Lembrando que pessoas com a mesma orientação podem definir a relação com base nela. Ou seja, um casal de homens gays pode se dizer um casal gay, não obrigatoriamente casal aquileano.

Os termos estão aí para quem quiser. No entanto, insisto sobre começarmos a adotar essas linguagens mais inclusivas, pois são úteis e podem trazer mais união entre os segmentos.