20 de out. de 2016

Faz parte de ser militante

Quando alguém se torna militante de um ou mais movimentos sociais, sua realidade não muda, apenas se expande; sua visão aumenta, novos ângulos são enxergados. Ser militante não é apenas levantar uma bandeira e sair gritando. É mais que isso.

A militância se torna parte de sua vida, parte de quem você é, parte do seu cotidiano.

No começo é emocionante, empolgante, como toda novidade. Você sente aquela intensa vontade de lutar e melhorar o mundo. E então inicia o aprendizado. Problematização e desconstrução são dois conceitos cada vez mais presentes.

À medida que você se desconstrói e aprende com os movimentos sociais, você passa a enxergar todo preconceito em tudo ao seu redor. Não, não é frescura, não é exagero. O preconceito está em todo lugar mesmo, do nível mais agressivo ao mais sutil. Você enxerga até os preconceitos que você reproduzia (ou ainda reproduz)!

As piadas que antes você ria se tornam sem graça. Não é possível mais assistir TV, séries ou filmes sem problematizar. E, conforme sua militância vai se desenvolvendo, você percebe que a maior parte da sociedade percebe apenas a ponta do iceberg - a forma mais evidente do preconceito e a curto prazo. Detalhe: até mesmo essa ponta é ignorada ou relativizada.

Ter essa nova visão do mundo pode servir de combustível ao seu lado militante. Mas também te causa uma descrença sobre o mundo. "Porra, está tudo errado com o mundo!" É por isso que militantes precisam persistir.

Cada pessoa tem seu próprio jeito de militar. Afinal existem vários caminhos para isso. Há militantes que falam e agem com mais paciência e didática, outrxs com mais agressividade. Há quem releva certas coisas em prol de amizades, e há quem exerce a militância constantemente e com todas as pessoas.

Dedicar-se intensamente à militância é um tanto sofrível. Parentes não te convidam mais para as reuniões ou almoços de família (ou você se afasta). Você se torna a pessoa chata da rodinha de amizades. Nas redes sociais te dão likes em muitas postagens, menos naquelas que falam de preconceito. Tocar no assunto chega a te esgotar. Não ver resultado aparente te esgota ainda mais.

Solidão ou sentir-se "sem grupo" também faz parte da vida de militante. Se está se sentindo assim, bem-vindx ao clube. Não, não há nada de errado com você.

Tem dias que pode ficar insuportável militar e parecer que ninguém está te ouvindo ou que ninguém se importa, seja no mundo real ou virtual. Não se desanime! Tem sempre alguém te ouvindo, mesmo que não se manifeste. Apenas uma postagem "bobinha", mas com um questionamento pode abrir os olhos de alguém.

Não importa o tipo de militante que você é ou como você milita. Você terá que lidar com o preconceito e com pessoas preconceituosas. É difícil. Viver já não é fácil; ser uma minoria social é menos fácil.

É uma vida conflituosa, porém é uma reação à opressão, e surge na esperança em criar um mundo melhor para todxs. Mudar o mundo é um desafio. Faz parte.