1 de jul. de 2015

O que é ser homem?

"O que me torna homem?"

Aqueles com essa identidade já se perguntaram isso?

Pode parecer uma pergunta ridícula, mas sua resposta é bem mais difícil do que parece. A identidade 'homem' pode ter parecido mais simples em tempos mais antigos. Entretanto, os tempos mais modernos revelaram que essa identidade é mais complexa do que imaginávamos.

"Ah, eu tenho um pênis."
Ok, beleza. Legal. Mas indo por essa lógica, um homem cis que, devido a algum acidente, perdeu o pênis, acaba se tornando menos homem. Estranho, né?

"Ah ok, vamos falar de genética! Tenho cromossomos X e Y. Segundo a ciência, sou o macho da minha espécie."
Existem mutações que permitem que mulheres tenham cromossomo Y. Você pode até alegar que é anomalia, mas ainda assim seu argumento foi quebrado.

"Ah, eu não uso vestido, saia, nem maquiagem ou joias, como colar e braceletes."
Bom... Tudo isso é questão cultural. Aliás, homens egípcios eram adeptos de saias, maquiagem e muitas joias. O vestido é mais incomum, mas a sociedade foi quem determinou que ele fosse roupa feminina.

"Ah, eu gosto de futebol, videogame, quando pequeno brincava com carrinhos e usava roupas azuis."
Esporte e videogame não têm gênero, e atualmente vemos muitas mulheres incluídas neles. Carrinho, mesma coisa. Se bem que quem determinou que meninos gostassem de carrinho e de azul foi novamente a sociedade.

"Ah, foda-se tudo! Quando me olho no espelho, eu vejo um homem."
Ótimo! Eu também. Finalmente chegamos num denominador comum.

Há algumas décadas os três primeiros argumentos acima seriam perfeitamente válidos. Especialmente o argumento do pênis. Praticamente em toda história da Humanidade o pênis foi visto como o fator que determinava se um ser humano era homem ou não. Ademais, o pênis é de longe o órgão mais endeusado, visto que o mundo atual tem uma forte raiz patriarcal.

Existe ainda cara conservador que pensa que é homem porque gosta de mulher. Nossa, virei mulher agora só por isso? E muita gente também ainda tem aquele arquétipo de uma pessoa musculosa, forte, viril, que fala grosso e luta numa guerra. Porém esse arquétipo se torna inválido com tantos homens que não se encaixam nessas características. Sem contar as culturas (como a nórdica) em que mulheres também lutavam em guerras.

Hoje em dia, após tantas discussões sobre as questões de gênero, chegamos à conclusão que 'homem' é apenas uma identidade. Uma identidade que podemos formar com bases biológicas, psicológicas, históricas, culturais, individuais, enfim.

A ciência identifica na espécie humana um sexo masculino (macho) e até há pesquisas sobre o cérebro masculino (que tende a ser mais racional). Contudo, a ciência não deve interferir na humanidade de uma pessoa, e parte dessa humanidade inclui sua autopercepção; em outras palavras, sua identidade. A identidade é um atributo individual; cada pessoa tem a sua e ninguém tem o direito de interferir nisso.

Quando finalmente a transexualidade foi verdadeiramente abordada, descobrimos que nosso sexo biológico e nosso corpo (na forma mais natural) não são o que realmente determina nossa identidade. Descobrimos o quão limitado era o pensamento de que a genitália define quem somos. As pessoas transexuais foram importantes para a comprovação de que a identidade humana está além de órgãos, hormônios, vestimentas, preferências, idiossincrasias, etc.

Talvez não exista de fato um ser homem. Ou o ser homem é apenas uma forma que encontramos de expressar nossa existência e individualidade para o mundo e uma maneira de lidarmos com nossa realidade. Mas, analisando essa questão de maneira mais ampla e profunda, podemos concluir que ninguém mais sabe responder ao certo a pergunta "o que é ser homem".

Não creio que estamos caminhando para a destruição do conceito de 'homem', e sim para encontrar o verdadeiro significado desse conceito.