12 de mar. de 2017

Comentando uma notícia

Recentemente uma notícia chocante se espalhou nas redes sociais. Uma menina de 11 anos teve o aborto negado pelo SAMVVIS (Serviço de Atenção às Mulheres Vítimas de Violência Sexual) no estado do Piauí. Ela estava sendo abusada pelo padrasto há três anos. Mesmo com boletim de ocorrência, o padrasto não foi preso. A menina está na 25ª semana de gravidez.

São tantas coisas erradas num único trecho que nem sei por onde começar. Primeiramente, já é absurdo demais uma criança ter sido abusada por anos. Onde estava a família? Ou a família sabia e deixava isso acontecer? E mesmo após ser denunciado para a polícia, o pedófilo continua livre! Livre por aí!

Falando agora apenas da vítima, imaginem como deve estar a cabeça dessa criança. Abusada e sendo obrigada a levar adiante uma gestação! Ninguém acha isso problemático? Fico pasmo pela quantidade de gente mais preocupada com o feto do que com toda a situação da vítima.

O Ministério da Saúde realiza o aborto em até 12 semanas de gestação. E como já escrevi aqui, esse tempo foi estipulado por causa da formação do cérebro. Porém, esse caso me fez refletir: será que situações como esta não deveriam ser exceção? Para tudo há exceções. Estamos falando de uma criança traumatizada e negligenciada! Se bem que interromper a gravidez nesse estágio poderia ser um risco à vida da menina...

O SAMVVIS, o único grupo que poderia oferecer o apoio necessário para a menina, constou não haver "sintomas de anormalidade em sua saúde física e mental". Vem cá, quem fez esse exame??? Ela foi estuprada por três anos, como não havia danos físicos ou mentais? E agora vem o pior: a maternidade queria "encorajar" a menina a cuidar da criança, embora colocá-la para adoção seria outra opção.

A mãe da menina disse que vão doar o bebê para adoção. A criança vai ter que lidar com uma gestação e teremos mais um bebê sem família no mundo, fruto de um estupro pedófilo. Só quero fazer uma pergunta: que vida levará essas duas crianças?

O Brasil está num estado crítico. Apenas em uma notícia percebe-se a falha do próprio sistema de apoio a mulher, que a questão do aborto precisa ser mais discutida, a impunidade ainda existente e a recorrência da pedofilia. Até onde vamos? Que país bizarro...