3 de jan. de 2015

Minha experiência """amorosa""" com aplicativos de (pegação) relacionamento

Estou na seca há 20 anos. E tenho 20 anos hahaha.

Ano passado decidi tomar um passo na minha vida amorosa e procurar um cara. Optei por testar esses malditos aplicativos de relacionamento.

O primeiro que instalei foi o Grindr. Foi uma grande novidade para mim. Cheio de pessoas novas, palavras novas (como otter, poz etc), oportunidades novas... só que não.

Fui lá procurando amizades e um namoro. O que encontrei nas pessoas de lá? Futilidade, egoísmo, libido desenfreada, mentira, gente desinteressada... Ah, e malucos também. Não malucos bonzinhos, mas sim estranhos, sem noção e muito provavelmente perigosos.

Entre esses malucos tinham aqueles que mandavam foto do pênis logo de início, os que faziam perguntas sexuais cretinas (ex: curte mamar?), ou aqueles que enganavam; falavam "oi" amistosamente, e depois seguiam o caminho das duas opões anteriores. Teve um doido em particular que não tinha foto, e tentou me enrolar para eu encontrá-lo (como se eu fosse uma criança retardada). Vai saber quem estava do outro lado da tela. O cara podia me estuprar, me matar, roubar meus órgãos, comer minha carne, ou me submeter a experimentos científicos desumanos hahaha.

Um amigo me deu uma dica de como iniciar as conversas. Não deu muito certo. Mais tarde percebi o quanto a frase "e aí, curte o que?" era suja. Eu realmente estava no lugar errado.

Conheci alguns caras. Ganhei na loteria ao conhecer um que era da minha faculdade; um menino maravilhoso e amigável. O resto... é resto. Tentei fazer novas amizades, e a princípio os caras me aceitavam. Mas em pouco tempo (questão de dias), eles se afastavam. O único telefone que guardei em minha agenda foi o do menino da faculdade. E nem tivemos nada de sexual, apenas amizade.

Era apenas isso que eu queria: alguém com quem compartilhar bons momentos, fosse amigo ou namorado. Mas para 99,9999% do pessoal de lá isso é pedir demais. A cabeça de baixo parece ser a mente comandante daquele mundo virtual obscuro.

Cansei do Grindr. Viajei pelo mundo virtual e adentrei outra dimensão chamada Scruff. Não era muito diferente do Grindr. O mais engraçado foi encontrar muitos caras do outro app lá. Comecei bem nesse, pois conheci logo alguns tesudos. Uma conversa breve, tudo perfeito, trocamos nossos números. E aí falo "oi" no Whatsapp e sou ignorado >.<.

Nunca vou entender os caras que me curtiram, me passaram número, e nunca me responderam. Sério, ninguém digita um telefone ou um "oi, tudo bem" por engano!

Além desses, teve outro grupo de caras que viraram fregueses em minha vida virtual; os que eu carinhosamente chamo de "caras de um dia". Quem são eles? O que vestem? O que comem? Como vivem? Chamo-os assim porque são caras que conversavam comigo por um dia. E depois ou não respondiam ou falavam pouco. Em pouquíssimo tempo sumiam.

Levei isso do primeiro ao último app. No último, chegou uma época em que sempre que aparecia um novo cara eu já pensava: "Eba!!! \o/ Que conversa de um dia terei hoje?"

Finalmente, após desinstalar o Scruff e ficar um tempo sossegado, optei por um app mais "leve": o Tinder. A vantagem desse é que só há diálogo quando as duas partes se curtem.

Bom, o que posso dizer desse último? Uma bosta, assim como todos os outros. Não falo isso por estar amorosamente frustrado; estou apenas constatando um fato. Apesar de que conheci um segundo amigo nesse app.

O mundo gay atual é assim: transar. Só. Apenas. Foda-se o outro. Foda-se o sentimento. Não há toque, romantismo, laço afetivo. Nem amizade!

O Tinder me proporcionou três decepções fortes ano passado. Três caras diferentes que me fizeram de trouxa, cada um de um jeito.

Um me deixou semanas na expectativa de que teríamos algo, e depois sumiu.
Outro marcou de nos encontrarmos, e depois fura, nem faz questão de explicar.
E mais outro me deixou dias e dias na expectativa, sabia o quanto eu queria sair com ele, e então, num belo dia, fica me ignorando e finaliza tirando com minha cara e dizendo que estava "indo curtir na Paulista".
Não tardei a excluir todos das redes sociais e da minha vida.

Após esse contato com o mundo gay, tive meus aprendizados. Embora eu não tenha conhecido alguém de fato, tirei minhas lições. De todos os contatos que tive, guardei apenas dois. Pelo menos algo de bom aproveitei.

Há algumas coisas que particularmente me incomodaram nos três apps:

1- Os caras que não colocam foto no perfil ou colocam qualquer outra imagem (anime, tela escura, sol, lata de suco etc). Sério, eles realmente querem ser levados a sério?

2- Aquela descrição de perfil perfeita: o cara é sincero, bonito, se diz intelectual, busca o amor de sua vida, até possui um forte lado espiritual. E então conversa com você por um dia, ou nem conversa direito. Na boa, cansei de descrições falsas. Ainda bem que até hoje apenas dois caras tiveram a decência de me esclarecerem que queriam apenas curtição. O mais irônico é que das minhas três decepções, dois diziam-se "espiritualizados".

3- A pergunta mais escrota que alguém pode me fazer: "você é ativo ou passivo?" Mano, quando perguntam isso, tenho uma imensa vontade de mandar a pessoa pra casa do caralho! Depois de muito estudo e reflexão percebi que essa coisa de papéis é uma atitude preconceituosa e limitada dos gays atuais. Eu até tenho uma preferência, mas não pretendo ter papeis fixos num relacionamento. O que aprendi é que esses papeis fixos são mais para sexo casual. Além disso, os caras são muito preocupados em dizer que não são "afeminados" ¬¬.

4- Uma coisa muito broxante: os caras que não sabem escrever. Basicamente, eles não sabem diferenciar "mais" de "mas", ou ao invés de serem caras extrovertidos eles são "eStrovertidos". Isso me faz lembrar o primeiro doido cara que conversou comigo, no Grindr. Ele disse: "num curtir". Eu disse "oi?", e ele: "incista", "num curtir", "cinples". Alguém traduz para mim, por favor? Hahahaha. Na boa, quem não sabe escrever, não deve saber conversar. E nem pensar, provavelmente.

Desde sempre tive a leve impressão de que esses apps não prestariam, no fim. Minha impressão provou-se mais do que absolutamente correta.

A lição mais importante? Bom, talvez tenha sido a de não ser desesperado e mostrar esse desespero. Pois assim abre-se a porta para a humilhação. Não devo ficar babando nos caras e aguardando a mesma atenção que lhes dou. Além disso, mostrou-me o imenso cuidado que devo ter caso eu queira mergulhar mais no mundo gay atual.

Recebi consolo e apoio de amigxs, e decidi seguir seus conselhos: esquecer esses apps e esperar. Pois todxs encontraram sua outra metade eventualmente.

Confio no Universo e sei que ele conspira a meu favor para trazer o cara certo para mim. Até lá, torçam por mim :D

Grindr, Scruff, Tinder NO MORE!!!