Bom, quem me acompanha no Twitter já sabe disso. Agora vou fazer a revelação aqui formalmente: eu sou uma pessoa não-binária. Qual é meu gênero? Homem não-binário. Simples.
Como foi tal descoberta após tanto tempo vivendo como um homem cis? Bom, foi algo bem tranquilo, na verdade. Claro, me sinto levemente diferente e agora estou ciente das possibilidades (boas e más) que se abriram para mim agora que assumi a não-binariedade. Mas não houve conflitos internos.
De todo modo, eu ainda sou um homem. Eu ainda tenho a identidade que me foi designada no nascimento. Apenas descobri a não-binariedade dentro do meu próprio gênero. Sim, isso existe! Pessoas designadas homem ou mulher podem ser homem ou mulher não-bináries.
A não-binariedade é um universo de identidades, vivências, perspectivas e expressões. Há gente por aí que deve achar que não-bináries não podem ser homens ou mulheres. Podem! Também podem ser ambos ou parcialmente. Podem estar conectades com esses gêneros. Podem ser de um gênero que é masculino ou feminino, mas que não está relacionado com os binários.
E desde o ano passado eu estava questionando minha suposta cisgeneridade. Eu sentia alguma ligação com a neutralidade de gênero, embora ainda conseguisse me ver como um homem (o que eu entendo por homem). E há dois dias finalmente assumi o que eu já sabia: estou fora do binário de gênero. O homem binário não me contempla. Não importa se fui socializado como tal e se estava “conformado” com essa identidade até pouco tempo.
Enquanto o homem binário pertence ao gênero masculino e sente dentro desse gênero masculinidade(s), eu sinto neutralidade. Sou quase um “homem-neutro”. Talvez seja algo abstrato, mas não tenho maneira mais fácil de explicar no momento.
O que mudou na minha intimidade? Bom, pouca coisa. Ainda aceito a linguagem ele/o, mas também aceito o neopronome elu e final de palavra e. E continuo com a identidade gay, já que ainda sou um homem que se atrai por homens.
Agora, reconheço que mesmo que o exorsexismo possa me atacar, eu ainda sou um homem e sou lido como tal em nossa sociedade (talvez isso até faça minha identidade ser "tolerável"). Sou trans não-binário, sim. Mas sei que ainda tenho privilégios de homem, que ainda posso ser favorecido pelo patriarcado, que ainda sou um machista em potencial. Minha não-binariedade não me isentou dessas coisas e seria muita babaquice afirmar isso.
Basicamente isso. Continuo sendo a mesma pessoa. Aguardem para mais conteúdo sobre não-binariedades, e acredito que essas identidades farão mais sentido. Quem sabe haja pessoas que possam se descobrir não-binárias?
(Sim, meu gênero tem bandeira de orgulho ^^)