27 de jul. de 2017

Confissões

Sempre nos sentimos diferentes desde criança. E assim nos sentimos porque assim somos. Cientes mesmo antes de entender o significado da palavra diferença que somos um pontinho colorido num mar de preto e branco.

Dificilmente você encontrará outra pessoa colorida que não fingiu fazer parte do preto-e-branco. Porque sabemos que somos diferentes. E, de alguma forma, associamos o que é diferente com o que é errado. Como se tivéssemos nascido com algum defeito.

A dúvida, o receio e o medo crescem com a idade. A família não pode saber! Os amigos também não! Ninguém entenderá! Não temos alguém para nos iluminar, alguma referência. Sozinhos...

O passado nos persegue. Aquele passado que gritava na mente: "se esconda", "é errado ser assim", "não se exponha tanto", "você é estranho". Muitos de nós ainda têm vergonha de falar sobre o que somos e sentimos.

Toda a repressão a que somos submetidos ainda nos marca, como se fosse ferro quente aplicado na pele. Se você vier de família religiosa, puts, pior ainda! Eternamente um pecador.

Felizmente, e isso está mudando mais a cada dia, muitos de nós estão seguindo a luz. A luz que nos ensina que ser colorido é apenas uma das muitas formas de se viver a vida. Que nada tem de errado. Você é o que é, pronto. Qual o sentido de culpar-se por nascer assim?

Mesmo após essa longa viagem que é o processo de auto-aceitação, temos ferimentos adquiridos antes e ao longo do processo. Aquelas feridas da repressão, da culpa por ser o que a família não esperava, da raiva de ter tentado mudar e não ter conseguido.

Ainda hoje muitos de nós têm vergonha de falar da intimidade quando perguntam. Olham para os lados quando trocam carícias com alguém. Por reflexo escondem o gênero da pessoa e algumas informações num papo descontraído. São marcas tudo isso.

"Não sinta essas coisas", digo para mim mesmo todo dia. Errada é essa sociedade doente que quer determinar o que normal ou não. Deixe o ferimento cicatrizar e se tornar passado, um passado distante que não pode me atormentar.

Ser colorido é estar marcado. Ser colorido é precisar de força para se recuperar das marcas. Ser colorido é ter coragem e resistência contra aqueles que ainda querem nos marcar mais.

É difícil, sim. Mas lembre-se todo dia, toda hora: você não é o problema!