6 de jul. de 2017

Sistemas de opressão

Dentro das militâncias sociais esteve se falando muito sobre sistemas de opressão. Quando se fala que um determinado preconceito é estrutural, isso significa que ele se faz presente em todos os setores de uma sociedade, começando do topo - as instituições - até o cotidiano. 

O que origina e mantém os preconceitos são esses sistemas, que funcionam dividindo as pessoas, criando hierarquias entre elas, e sustentando essas diferenciações por diversos motivos, principalmente para ter controle e poder.

Com isso, temos as classes opressoras e as classes oprimidas. Embora pareçam termos um tanto pesados, eles estão dentro de um contexto histórico-social e não representam necessariamente todas as pessoas de determinada classe.

As classes opressoras seguem um ou mais sistemas de opressão, portanto são privilegiadas e são as maiores reprodutoras de um ou mais preconceitos. E as classes oprimidas são aquelas que estão fora de um ou mais sistemas de opressão, consequentemente sendo alvos de discriminação em vários níveis e formas. Como os sistemas são muito influentes e enraizados, as classes oprimidas também podem reproduzir preconceitos, até mesmo aqueles direcionados a elas.

Vou falar de forma resumida sobre os sistemas de opressão da atualidade:

Heteronormatividade/Heterossexismo: impõe o padrão heterossexual, mais especificamente, impõe que as pessoas sejam heterossexuais e aceitem o comportamento hétero como a única sexualidade válida e natural. Esse sistema é muito ligado à cisnormatividade, por isso acaba também impondo papéis de gênero.

Cisnormatividade/Cissexismo: impõe o padrão cisgênero e reforça padrões de aparência e comportamento de gênero. Ou seja, esse sistema determina que as pessoas devam se encaixar no padrão binário homem-mulher, aceitar o gênero imposto no nascimento de acordo com o sexo biológico, e que devem ter expressão de gênero "correta" (homem masculino/mulher feminina).

Diadismo: anormaliza a intersexualidade e exclui ou invisibiliza pessoas intersexo. Está intimamente ligado com a cisnormatividade devido à imposição de gênero baseada na biologia, e por isso bebês intersexo são submetidos às cirurgias genitais obrigatórias.

Monossexismo: impõe que as pessoas são monossexuais, se atraem por apenas um gênero (logo, ou são héteros ou homos), o que deslegitima bissexuais, polissexuais, pansexuais etc. Pode também reforçar o alossexismo e a amatonormatividade.

Alossexismo: determina que o normal do ser humano é ser alossexual, sentir desejo sexual. Age em conjunto com a sexonormatividade, que coloca as relações sexuais como indispensáveis na vida humana.

Amatonormatividade: determina que as pessoas devem sentir atração afetiva (ou romântica), que ela é essencial nas relações e que uma relação amorosa tem valor maior que outras (como amizade).

Obs: monossexismo, alossexismo e amatonormatividade derivam da heteronormatividade.

Exorsexismo: deslegitima todas as pessoas não-binárias, reforçando que as pessoas só podem ser ou homens ou mulheres.
Obs: esse sistema está dentro da cisnormatividade.

Mononormatividade: determina que as relações monogâmicas são as únicas legítimas, rejeitando e estigmatizando qualquer outro modelo de relacionamento. É reforçada pela amatonormatividade e foi criada dentro da heteronormatividade (afinal só foram previstas relações monogâmicas entre um homem e uma mulher).

Nota: referente à comunidade LGBTQIAP+, os sistemas que causam todas as opressões vivenciadas pela diversidade são todos esses listados acima.

Patriarcado: coloca a classe homem como figura dominante e autoritária na sociedade. Trabalha em conjunto com a heterocisnormatividade, beneficiando muito mais os homens hétero-cis de expressão masculina. No entanto, homens de forma geral ainda se beneficiam com esse sistema.

Racismo: é toda opressão construída através de um processo histórico-social onde uma etnia tem dominância sobre outra etnia. O racismo mais comum e evidente é contra pessoas negras e mestiças e/ou descendentes de povos africanos.

Capacitismo: toda discriminação, exclusão e invalidação de pessoas com deficiência (PCDs).

Etarismo: discrimina uma faixa etária, sendo que o etarismo mais comum é contra pessoas idosas.

Elitismo: como vivemos em um mundo capitalista, pessoas de classe média e classe alta podem usufruir do capitalismo e ter ótimas condições de vida. Então além de receberem um status social, o elitismo discrimina pessoas de classe baixa e impede que elas não subam de classe ou faz com que não tenham as mesmas oportunidades que as outras classes.

Todos os sistemas abordados aqui estão presentes no mundo inteiro. Podem trabalhar em conjunto ou até mesmo separados. Por exemplo, embora a heterocisnormatividade oprima LGBTs em geral, a cisnormatividade pode ser praticada por pessoas cisgênero, sejam héteros, homos, bis etc.

Existem também discriminações interseccionais, como lesbofobia (patriarcado+heteronormatividade) e transmisoginia (patriarcado+cisnormatividade). E discriminações que circulam entre os sistemas e têm outras origens (ex: culturais), como xenofobia e sorofobia (preconceito contra pessoas HIV+).

Discutir sobre esses sistemas, questioná-los e trabalhar para sua desconstrução faz parte das lutas de todos os movimentos sociais. Mesmo as lutas sendo protagonizadas pelas classes oprimidas, as classes opressoras também podem fornecer muita ajuda. Todo preconceito deve ser combatido. Não é uma batalha ideológica ou partidária, é uma questão humana.