19 de jan. de 2017

Diversidade de gênero pelo mundo

Falar de gênero tornou-se muito comum neste século. Dentro deste tema tão amplo pouco se fala sobre mais de dois gêneros ou gêneros fora do padrão homem-mulher. Atualmente, no Ocidente, pessoas de gêneros não binários têm lutado por espaço e visibilidade.

O que muita gente não sabe é que gêneros fora do nosso padrão atual e ocidental não são exclusividade dos tempos modernos. Muitas culturas aceitavam e ainda aceitam mais de dois gêneros, tendo suas visões e formas de construir seus modelos de gênero.

Citarei muitas das categorias existentes. E abordarei sobre algumas.



Muitas regiões da Ásia e o Oriente Médio são os locais com maior diversidade de gênero historicamente falando.

No sul da Ásia, especificamente na Índia, no Paquistão e em Bangladesh, existem as pessoas Hijra - pessoas do sexo masculino com expressão de gênero feminina. Hoje em dia essas pessoas são reconhecidas legalmente como um gênero separado do feminino e masculino, sendo o terceiro-gênero mais aceito no mundo.

O povo Bugis na Indonésia divide sua sociedade em cinco gêneros: oroané (homem cis), makkunrai (mulher cis), calabai (mulher trans), calalai (homem trans) e bissu. A pessoa do gênero bissu pode ser de qualquer sexo e deve ter todos os aspectos de gênero combinados.

A tradição budista reconhece quatro gêneros: homem, mulher, ubhatobyanjañaka e padanka. O terceiro se referia às pessoas intersexuais. E o quarto é uma categoria complexa com significados variados, o mais comum sendo para pessoas do sexo masculino de expressão feminina e comportamento promíscuo.

Pessoas do sexo masculino com expressão feminina são reconhecidas em outros países com denominações próprias: köçek na Turquia do século 17, xanith no Omã, metis no Nepal, e acault em Myanmar. Na Sibéria, a tribo Chuckchi tem xamãs nesta mesma condição.

Nas Américas, povos indígenas aceitam e reconhecem mais de dois gêneros em suas tribos, criando suas categorias de acordo com a biologia e expressão. Two-spirit (“espírito duplo”) é um termo guarda-chuva moderno usado nessas culturas indígenas para definir pessoas transgêneros.

Diversas tribos pela América do Norte reconhecem um gênero chamado ninauposkitzipxpe, pessoas do sexo feminino que ocupam papeis de gênero diferentes de homens e mulheres. 

Na cultura Navajo, no sudoeste dos EUA, existem quatro gêneros: homem masculino, mulher feminina, homem feminino (nadleehi) e mulher masculina (dilbaa).

Na cultura Zuni existe lhamana, um papel de gênero tradicional de pessoas do sexo masculino que vivem "como mulheres", usando roupas mistas e fazendo serviços tipicamente femininos.

No Peru, o povo inca pré-colonial reconhecia quariwarmi como um papel de gênero misto, fora do padrão binário.

Nas culturas Zapotecas, no sul do México, se reconhece um terceiro-gênero chamado muxe, pessoas do sexo masculino com expressão feminina. Elas têm papeis tanto masculinos quanto femininos e podem se relacionar com qualquer pessoa. A colonização espanhola infelizmente trouxe transfobia contra o gênero.

Poucos países da Oceania apresentam diversidade. Fa'afafine é um gênero de Samoa, característico de pessoas do sexo masculino com expressão de gênero feminina, e que não se consideram nem homem ou mulher. Māhū é um terceiro-gênero tradicional do Havaí. A cultura Maori na Nova Zelândia reconhece transgêneros como whakawahine (sexo masculino/expressão feminina) e wakatane (sexo feminino/expressão masculina).

No Antigo Egito, a sociedade aceitava os gêneros: homem, sekhet e mulher. A tradução comum de sekhet é "eunuco", mas existem controvérsias. O termo poderia ter sido usado para homens cis gays, pois estes (teoricamente) não procriariam.



Mesmo com suas variações étnico-culturais e algumas culturas misturarem sexualidade com expressão de gênero, o ser humano esteve sempre buscando maneiras de construir sua identidade social. Interessante notar que o Oriente sempre foi mais diversificado.

Não, pessoa cis transfóbica. Gênero não binário não é invenção pós-moderna. E concepções de gênero variam de cultura em cultura. Pense nisso tudo antes de dizer que só no Tumblr existe mais de dois gêneros.