18 de ago. de 2016

Minha viagem de ontem

[ATENÇÃO: Esse texto é grande!]

Eu e meu grupo da faculdade decidimos apresentar nosso TCC com antecedência num congresso na cidade de Araraquara. No fim fiquei encarregado de ir sozinho. Seria minha primeira viagem sozinho, uma longa viagem, e para um lugar totalmente desconhecido. Reclamei? Reclamei! Mas aceitei essa aventura como uma experiência de crescimento e independência.

Acordei mais cedo que de costume. Antes disso acordei algumas vezes na madrugada preocupado com o horário e a viagem. Não demorei em me levantar. Estava tudo pronto para mim. Tomei banho, me arrumei, tomei meu leite com Toddy e fui.

Fazia um tempinho que eu não sentia aquele friozinho da madrugada. O céu estava lindo e escuro ainda. São Paulo ainda dormia praticamente.

O metrô foi mais tranquilo do que imaginei. Cheguei na rodoviária, comprei minha passagem e em meia hora o ônibus partiu. Viagem de ônibus não era novidade. A diferença é que dessa vez eu não tinha companhia e seria uma viagem de quatro horas e meia. Tive a felicidade de pegar o assento da janela. Ajeitei minha mochila entre as pernas e coloquei o banner do TCC do meu lado.

Não consegui dormir na viagem; estava sem sono e me empolguei pela paisagem durante o percurso. Parei em alguns momentos para ler um livro, ouvir música e revisar o conteúdo da apresentação.

Passamos por Campinas. Fiquei fascinado com o shopping de lá. Passamos por Anhanguera. Vi uma mecânica chamada “Scalibur” (criativo?). Num momento tive a impressão de ver uma águia no céu. “Tem águias aqui no Brasil?” Fizemos uma pausa e continuamos. Chegamos em Limeira, uma cidade repleta de áreas rurais, aqueles terrenos que embaralharam partes de terra e partes verdes. Muito bonita. Foi a partir daí que comecei a reparar num garotinho sentado logo atrás de mim. E como “tenho sorte com criança”, ele me irritou muito, não parava de falar e fazer ruídos. Em São Calos consegui achar um wi-fi livre e aproveitei para atualizar minhas redes sociais, anunciar minha viagem e falar com meu grupo. O menino ficou mais chato, e chutou minha cadeira algumas vezes. Quase dei um esporro nele e na mãe. Para a sorte deles chegamos em Araraquara uma meia hora depois.

A rodoviária de lá era escura e muito vazia, parecia um filme de terror. Peguei um táxi ali perto e cheguei rápido na faculdade de ciências farmacêuticas. Era um dos poucos prédios no meio de todo aquele mato típico de cidade do interior.

O lugar é bonito e agradável, muito aberto mesmo no interior, com muitas áreas ao ar livre. Até passarinhos passeiam lá dentro. Como faltavam duas horas para a apresentação, aproveitei para visitar um pouco o local. Estava calor lá. Tive que aguentar, até porque eu estava de camiseta social de mangas compridas. Por sorte achei uns cantos frescos e com sombra.  A grande maioria das pessoas que vi eram meninas. E tinha uns meninos bonitos. Almocei, li um pouco mais, tomei um sorvete, apreciei a paisagem (e os meninos) e fui para a bendita apresentação, um pouco ansioso, mas determinado.

Pendurei meu banner com antecedência lá e fiquei o tempo todo parado ao lado dele. Minhas avaliadoras vieram rápido, quase que seguidas. Elas leram o banner, comentei sobre o trabalho e respondi suas perguntas. Elas adoraram! Fiz amizade com a moça que estava logo na minha frente. Ela também tem um nome incomum, igual ao meu, e descobri que está fazendo mestrado. Conversamos muito.

Não quis participar do “coffee” de lá. Terminou antes do esperado e eu queria ir para casa. Acompanhei minha amiguinha até a saída. Então ela teve a bondade de me oferecer carona de volta a rodoviária. Aceitei, lógico! Eu, ela e os dois amigos dela fomos para lá. Me despedi.

Infelizmente não cheguei a tempo do ônibus, que havia partido há uns minutos. Tive que enrolar lá uma hora e meia. Aguentei. Nem imaginam o alívio que senti ao entrar no ônibus. Alívio de estar voltando para casa e estar saindo de lá vitorioso. Araraquara me pareceu um lugar muito tranquilo de se viver. Pensei em como seria morar lá.

Peguei de novo o assento da janela. Um casal entrou no ônibus e sentaram separados; a moça do meu lado e o rapaz do outro lado, na outra dupla de cadeiras. Troquei de lugar com ele, assim ficavam juntos. Fiz uma boa ação! E eram um casal tão fofo! *-*

Tive que suportar um cara chato atrás de mim que falava alto no celular. Pelo menos eu sabia que ele não iria ficar falando por quatro horas e meia. Fiquei com o outro assento livre até São Carlos, onde entrou um homem e sentou ao meu lado. Interagimos minimamente, mas ele parecia ser interessante. Um senhor numa poltrona mais a frente começou a roncar, então nem ele ou eu tivemos sossego para ler nossos livros. Pelo menos a lua cheia estava maravilhosa! A viagem de volta me pareceu mais serena do que a ida.

Precisei ir no banheiro num dado momento, e para minha infelicidade a porta não fechava e nem trancava. Tive que ficar segurando ela para dentro enquanto mijava. Não tentem isso! É horrível!!! Por sorte paramos num lugar depois e pude mijar decentemente (o nervosismo não me deixou soltar tudo :P).

Depois de mais um tempo de viagem, eu e o homem ao lado começamos a conversar mais (nem lembro como). Ele veio de Fortaleza e é um ativista de esquerda. Teve diálogo? E como teve! Até o senhor que estava roncando participou. Só perdoei os roncos porque ele também é de esquerda hahaha. Que coincidência conhecer um esquerdista nordestino! Aquele dia foi cheio de surpresas.

Fomos juntos até o metrô. Desci na Sé. Nunca fiquei tão feliz em ver a linha vermelha! E não apenas isso, fiquei ainda fascinado com toda minha experiência daquele dia: viajar, o TCC, as pessoas que conheci. Foi tudo tão... mágico! Me senti diferente e renovado.

Ao chegar em casa, anunciei ao mundo todo o sucesso da apresentação. Me livrar do TCC agora foi muito bom! O dia de ontem foi tudo de bom. Foi um dia inusitado de todas as formas. Saí da zona de conforto, conheci o maravilhoso mundo da socialização, tive uma boa experiência e descobri um lado mais aberto que eu não tinha certeza se tinha.

Encerro esse longo texto declarando que essa viagem foi até agora uma das melhores experiências que tive.