20 de ago. de 2016

Minha opinião sobre Carlota Miranda

Essa semana começou uma polêmica nas redes sociais, especificamente nos grupos virtuais de militâncias dos movimentos sociais (LGBT e feminista). Faço questão de escrever esse texto por ter analisado todos os lados envolvidos e por ter certas críticas a fazer.

Tudo começou quando uma pessoa não-binária (que não se identifica nem como homem ou mulher) conseguiu adquirir o nome social de Carlota Miranda. Essa pessoa comemorou sua conquista e o fato de agora poder utilizar o banheiro feminino. 

Muita gente, principalmente as mulheres, protestou contra devido à aparência muito masculina de Carlota (que também é do sexo masculino) e por ter conseguido o direito ao nome social com certa facilidade em comparação às pessoas transexuais.

Primeiramente, achei muito problemático nessas discussões o pessoal desconsiderar o gênero de Carlota, alegando que elx é um homem cis fingindo ser pessoa n-b. Isso foi uma atitude transfóbica (sim, pessoas n-b são trans). Carlota pode ser um homem cis fingindo ser o que não é? Pode! Claro, sempre tentamos dar um voto de confiança e acreditar que a pessoa é o que diz ser. Mas sinceramente não creio que elx se prestaria ao trabalho de mudar o nome e ser alvo de ataques de todos os lados apenas por querer ser diferente ou só para aparecer.

Referente à aparência masculina de Carlota (sua barba e as roupas), com tudo que aprendi sobre gêneros não-binários, devo afirmar que não há nada de errado em Carlota ter uma aparência masculina e um nome feminino. Ser pessoa não-binária é também misturar características masculinas e femininas ou ter novas características. Nem toda pessoa n-b pinta o cabelo de azul, verde, que seja, e combina vestes masculinas e femininas. O problema não é a aparência, e sim como a sociedade a interpreta.

Sobre o nome social, antes de tudo, devo dizer que Carlota tinha todo o direito de mudar seu nome. Carlota não se apropriou da luta das pessoas trans, pois elx também é trans. Por outro lado, é inegável a dificuldade enorme que pessoas transexuais enfrentam apenas para mudar o nome e tê-lo reconhecido em qualquer lugar. Isso é culpa do nosso sistema transfóbico. Carlota teve alguma vantagem por ser um homem aos olhos da sociedade? Talvez, é bem possível. E até compreendo a péssima impressão que foi passada, tanto para pessoas trans quanto cis.

Agora, falando do desconforto que a grande maioria das mulheres demonstrou, é perfeitamente compreensível! Entendam, como foi dito logo acima, Carlota tem uma aparência socialmente interpretada como de homem. Se eu encontrasse elx na rua, também julgaria ser um homem! Nosso mundo ainda é muito binarista (separa as pessoas apenas em homens ou mulheres). E nós também não temos como adivinhar o gênero das pessoas, seja a aparência mais dentro dos padrões ou não.

Talvez ainda não seja o momento apropriado para fazer um afrontamento desses (não estou dizendo que não é válido). As mulheres têm diversos motivos para temer os homens, então não é irracional ou preconceituoso o medo e a repulsa que poderiam sentir ao encontrar alguém como Carlota num banheiro. 

Talvez Carlota possa abrir uma concessão nesse caso e continuar usando o banheiro masculino, onde ninguém vai estranhar elx. Mudar de nome já foi uma revolução a sua própria maneira. Seria o fim do mundo? Quanta concessão nós minorias não fazemos aqui e ali porque ainda não temos poder para mudar o sistema? E convenhamos: banheiro é banheiro.

Questões como essa me fazem lembrar do quanto defendo os banheiros unissex ou sem gênero. Porém, na sociedade em que vivemos e nesses tempos tão conturbados, a ideia ainda não sai muito da teoria para a prática. Todxs nós vamos ao banheiro por necessidades e não para checar o gênero/sexo de quem o usa. E ainda assim é complicado falar disso, mais ainda quando levamos em consideração o lado das mulheres.

Concordo que esse caso é bastante controverso. E também acredito que polêmicas como essa são construtivas quando abrem espaço para questionamentos e reflexões sobre as normas sociais e acabam nos direcionando para a desconstrução. Precisamos ainda falar muito sobre gêneros e aparências. Precisamos muito falar sobre mulheres e transgêneros.