22 de abr. de 2015

Homofobia ≠ Lesbofobia

Alguns (tipo eu) podem ter se perguntado:

"Por que inventaram esse termo, lesbofobia? Homofobia se aplica aos dois gêneros."

Lesbofobia não deixa de ser uma homofobia. Mas o que a torna diferente, exclusiva? Bom, começa com o fato de que ela é direcionada às mulheres. Preciso dizer mais? Ok, vamos dissertar.

Não é novidade de que a classe mulher é alvo do machismo, a ideologia fundada pela nossa querida sociedade patriarcal que objetifica, inferioriza e menospreza a mulher. Portanto, e consequentemente, as violências cometidas contra homens gays e contra mulheres lésbicas são bem diferentes.

Lésbicas são um tabu na sociedade; ainda não possuem a visibilidade que necessita. E a invisibilidade é causada tanto pelos preconceitos da população quanto pelo próprio movimento LGBT, que é mais representado por homens gays. Quando alguém fala 'LGBT' para você, você pensa imediatamente no quê? Em gays ou lésbicas (ou bissexuais e transgêneros)? 

Contudo, apesar invisibilidade, lésbicas são as estrelas principais do maior fetiche de homens héteros (até mesmo daqueles que se dizem 'contra o homossexualISMO'). Muitos héteros fantasiam com duas ou mais mulheres se pegando na frente deles, e com eles participando. E a partir daí temos aquele babaca sem noção que chega num casal lésbico e pergunta "posso participar?". E também devido a isso observamos a hipersexualização das lésbicas (ou do comportamento lésbico) em sites de pornografia hétero ou até mesmo nas mídias.

"Ah, já que lésbicas são 'adoradas' pelos héteros, elas deviam ser mais aceitas do que os gays, né?"
Ha ha ha, sua ingenuidade me comove.

Existe uma imensa diferença entre o fetiche do hétero e o prazer lésbico. O homem aceita aquela relação entre mulheres enquanto elas estão ali unicamente para realizar sua fantasia (se elas estão gostando ou não, não importa realmente). Mas no momento em que as lésbicas mandam o idiota se fuder e se relacionam unicamente para o prazer delas, o homem fica puto e dá chilique. Não há só machismo extremo nisso, há muita hipocrisia também.

O maior diferencial aqui é justamente o gênero feminino. O ato de estupro é predominante contra a classe mulher. Existe "estupro corretivo" para homens? Não. Quando tentam "curar" um gay, ou usam métodos subjetivos (como exorcismos) ou aplicam tratamentos que visam estimular o gosto pela mulher/vagina (sei que não são sinônimos, mas a sociedade ainda pensa que são). Já a mulher... vish, a mulher lésbica... até mesmo o estupro contra ela é diferente, pois há a intenção doentia de curá-la.

Ainda existe o pensamento de que há mulheres que são lésbicas por "não acharem o homem certo" ou ainda por terem sido muito rejeitadas ou decepcionadas. E pior ainda é vermos a harmonia conjugal de lésbicas sendo questionada porque a relação sexual delas não tem a presença do pênis...

Percebam que existe um pensamento falocêntrico na sociedade de que o pênis é um órgão divino; somente ele produz milagres e traz a felicidade que todxs precisam. Ele cura lésbicas e somente ele pode proporcionar prazer a todas as mulheres (e talvez as demais pessoas).

Além de tudo isso, como li num artigo, a lesbofobia também pode ser o medo que uma mulher tem de amar outra mulher, o medo da rejeição e da hostilidade por ela não estar seguindo os "padrões" da sociedade.

Embora o machismo promova ódio e desprezo contra a feminilidade, mulheres lésbicas de expressão mais masculina também não escapam da lesbofobia, e sofrem tanto quanto as mulheres mais femininas por também não seguirem os padrões heteronormativos da sociedade.

Espero que a razão desse termo tenha sido explicada e seja compreendida.

Assim como a transfobia e a bifobia possuem alvos específicos, a lesbofobia também possui um alvo específico. Considerá-la igual a homofobia é desconsiderar as lutas e os sofrimentos das mulheres lésbicas, que sofrem a opressão por serem mulheres e por serem lésbicas. E uma mulher lésbica negra? Vish, pior ainda, pois além das duas opressões citadas, também sofre racismo.



E um último adendo: movimento LGBT, vocês precisam dar (MUITO) mais voz às lésbicas!