22 de jun. de 2016

Doação de sangue por LGBTs

Em mais de 40 países, pessoas LGBTs ou são proibidas de doar sangue ou só podem doar em certas condições. Quase todos os países que permitem a doação exigem como condição 12 meses de abstinência de relação sexual com pessoas do mesmo gênero/sexo. As legislações costumam parecer mais imparciais, colocando como grupos de risco "homem que fazem sexo com homens" (HSH).

No caso do Brasil, a lei fala de HSH e exige que esses homens não devam ter tido relações homoafetivas dentro de 12 meses. Ela é mais específica para homens porque a prática do sexo anal é considerada um fator de risco (DSTs). Socialmente, a relação gay ainda é associada a sexo anal, embora heterossexuais também o pratiquem.

"Ah, então pessoas trans poderiam doar?"
Travestis são consideradas "grupo de risco" pelo mesmo motivo de HSH (além de ainda serem vistas como homens). Pessoas transexuais heterossexuais poderiam doar, porém mulheres trans também ainda são vistas como homens por profissionais da saúde ignorantes no assunto e intolerantes.

As bolsas de sangue, depois de recolhidas, passam por testes antes de serem disponibilizadas. A bolsa de uma pessoa que tenha alguma DST e mentiu sobre isso no relatório pré-doação será descoberta e descartada.

Na imunologia há o conceito de "janela imunológica". Este é um período em que o organismo ainda não identificou um patógeno (vírus, bactéria etc) e ainda não produziu anticorpos contra ele. Defensores da restrição usam isso como argumento principal para impedir homens gays/bis de doarem, visto que a DST não é identificada nessa janela. 

Contudo, há um teste chamado NAT que diminui essa janela e encontra a doença com mais rapidez, através de seu material genético (ao invés de procurar anticorpos). Ainda há motivo para essas restrições?

Não vou negar que o HIV ainda é um risco grande entre a população masculina homoafetiva. A questão vai além disso, bem antes da contaminação. Fatores sociais também influenciam muito no contexto; discriminar e marginalizar esses homens pode afastá-los do conhecimento e informação sobre DSTs. E o preconceito não está apenas na casa, na escola ou nas ruas, está também nos hemocentros. A desinformação por parte de profissionais impede muitas doações.

Viram como educação sobre diversidade e tolerância são determinantes até na própria saúde LGBT e, consequentemente, na saúde da população geral? Quantas bolsas de sangue são descartadas ou nem são coletadas? Quantas vidas poderiam ser salvas? Está na hora do próprio âmbito científico questionar tais atitudes e também do governo rever sobre essas legislações e a desinformação, tanto por profissionais quanto pela população.

É importante sim haver legislações que garantam a segurança e integridade nas doações de sangue. Assim como também é importante começarmos a praticar a tal "igualdade" prevista por lei para todas as pessoas e criarmos legislações verdadeiramente racionais, e não discriminatórias e contraditórias. 

Informação e inclusão social podem salvar pessoas!